Raquel (Beckhauser) Soares Warmling Estudante universitária, estava no voo 3054 da TAM - em 17 jul 2007.
(João Carlos, pai de Raquel, pergunta:) - Raquel, onde está você? - Aqui. - Onde? - Aqui. Escrevendo. - Legal. Sabe de uma coisa. Também quero escrever. Você me ajuda, minha filha? - Falando assim não. Só se você falar comigo da maneira como sempre falou. - Ok. Ok. Minha menina. Mas você também falou diferente comigo. - Ok. Ok. Paizinho. Mas você não tem esse talento. Como vai escrever? - Você me ajuda. - Com uma condição. Quando você escrever, eu entro no seu conto, e aviso se está bom ou não. Combinado? - Combinado. Não vou colocar título nos contos. Vou direto ao texto. “Cedo percebeu que não era o filho preferido da sorte. Se houvesse chance de algo dar errado, daria. E dava, o tempo inteiro: os tombos sem motivos, as coisas jogadas do alto que insistiam em pousar na sua cabeça, a perda...” - Paizinho. Este texto faz parte de um conto que eu escrevi. - Não acredito. Vou tentar novamente. “Ele sempre passava em frente daquele cassino quando voltava do trabalho. Naquele dia, entrou. Sem esperanças e sem justificativas. Ele sabia que seu inimigo não baixaria a guarda. Mas ele queria sentir aquilo, aquela adrenalina que percorre o corpo quando não se sabe se o próximo sentimento é de alegria ou tristeza. Aquela incerteza de não se saber para onde vai. De não conseguir fingir que...”
- Certo. Mas você pode me dar outra chance. “Bebia água com limão em jejum, assim que levantava. Haviam lhe ensinado que o limão “afinava” o sangue. Talvez tenha sido por isso que a limpeza do sangue alastrado pelo saguão do prédio não exigiu muito do porteiro. O sangue fora das veias...” - Agora é uma parte de outro conto que escrevi. Cadê a criatividade? - Desculpa minha menina. Acho que andei lendo muito os seus contos. Vou tentar novamente. “Viver é seu lema. Viver era seu lema. A vida era uma só e precisava ser aproveitada ao máximo. Tudo deveria ser provado, saboreado, vivido, tocado, sentido. Não se podia deixar nada para trás, as sensações precisavam pulsar, queriam viver.” - Chega. Também é parte de um conto meu. Sem chance. Estou saindo dos teus contos. - Tudo bem. Tudo Bem. Vou fazer diferente. Vou dar um título para meu conto. - Bom, aí eu quero entrar nele definitivamente. Vôo 3054. - Com o título definido você vai conseguir ser original. ...e no momento da aterrissagem o avião não reduz a velocidade e choca-se contra o prédio... - Nããããããoooo Raquel. VOLTA!!! Os textos destacados acima fazem parte de redações escritas por RAQUEL Soares (Beckhauser) WARMLING, aluna do curso de letras da PUC-RS e passageira do vôo 3054, dia 17.07.2007.
Assim era minha filha que num dos recados foi chamada de “contista precoce”. Assim queremos que ela seja lembrada. João Carlos, Zeoni e Cíntia.
O Brasil e a língua portuguesa perderam uma contista, uma poetisa... Os páramos celestiais ganharam a ânsia da vida da jovem Raquel e de todos seus amigos virtuais, reais e familiares. Auf Wiedersehen! ... como diziam seus ancestrais... Até mais, prima e amiga! www.laerciobeckhauser.com ................................................................................................................. E-mail, recebido (Laércio Beckhauser) do pai da Raquel (João Carlos):
Caro Laércio,
Estou utilizando o e-mail rswarmling@uol.com.br, de minha filha Raquel.
Sou seu Pai. Raquel Soares Warmling, filha de João Carlos Warmling, neta de Elizabete Beckhauser Warmling, bisneta de João Carlos Beckhauser e trineta de Carlos Eduardo Cesar Beckhauser.
Quis o destino que ela fosse passageira do vôo Tam JJ 3054 em 17.07.2007.
Estou anexando uma foto dela e um texto que escrevi após algumas horas de insônia, que retrata o relacionamento que tínhamos e um de seus talentos, ou seja: escrever bem.
João Carlos
Comentários do RL: 05/08/2007 18h53 - Júlia M. Silveira Ramp
Fiquei emocionada ao ler este depoimento do pai da Raquel. Chorei... Lamentamos ter perdido esta jovem que gostava de escrever e estava se aprimorando na Faculdade de Letras em Porto Alegre - RS. Felicidades a todos familiares e amigos da jovem Raquel.
Júlia .................................... 05/08/2007 18h56 - Maria T. Scangini
Texto muito forte e emocionante. Lamentamos o ocorrido mas a Raquel ficará na memória de todos nós.
Maria S. ...................................... 06/08/2007 04h54 - HENRICABILIO
Muito comovente todo o texto. Nunca saberemos quando o infortúnio nos pode bater à porta, e a todo o momento existem fatalidades por este nosso mundo. Saibamos dar graças pelos nossos momentos de alegria e em simultâneo comungar da dor daqueles que partem, em muitos casos sem terem sequer vivido!
Um abraçooo luso! HENRICABILIO
Portugal, 46 anos, Escritor Amador
260 textos (78068 leituras)
5 áudios (709 audições) (estatísticas atualizadas diariamente - última atualização em 06/08/07 10:59)
Amigos e amigas, Beckhauser |
Publicado no Recanto das Letras em 25/07/2007 |
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Enviado por Beckhauser em 04/08/2007
Alterado em 09/08/2007 Copyright © 2007. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |