Com a possibilidade da pessoa se perpetuar pela clonagem, como fica a genealogia histórica do pai e da mãe deste novo clone?
http://www.laerciobeckhauser.com/ "Caso a clonagem de seres humanos se torne uma realidade, vamos ter um problema de difícil solução: geneticamente um clone é uma cópia de si mesmo, portanto é gerado por apenas um indivíduo. Se fizermos um exame de DNA de um clone, este terá o mesmo código genético de quem o gerou, portanto não terá um pai ou uma mãe. A discussão ética sobre a clonagem é pertinente a partir do momento em que sabemos que a ciência está a serviço da humanidade, e não contra ela." Por favor: Leia o texto abaixo e tire suas conclusões. Obrigado! http://www.laerciobeckhauser.com/ www.laerciobeckhauser.com Fonte: http://gens.fateback.com/gn_genetica.html
O presente trabalho pretende demonstrar o atual estágio de desenvolvimento da Genealogia Genética, e os antagonismos que ela terá com Genealogia tradicional em futuro próximo. A genética vai obrigar a Genealogia a transformar-se em ciência, sob a pena desta transformar-se em mito, exatamente como aconteceu com a Astrologia em relação à Astronomia. Tais mudanças encontrarão resistência por parte de alguns. Muitas transformações são mal assimiladas por aqueles que se julgam prejudicados por elas. A realidade científica é implacável, e destrói verdades consolidadas por milênios. Os exemplos são fartos. É sabido que a ciência no seu afã de ampliar o campo do conhecimento, em muitos casos atropela a ética, principalmente se houver interesses financeiros envolvidos. Tais aspectos serão abordados, e deverão ser debatidos pela comunidade genealógica antes que se tornem realidade. No campo social, as transformações são mais lentas do que no científico. Genealogia Genética. Vamos comentar cada um dos três exames: o DNA mitocondrial produz uma seqüência de marcadores genéticos femininos, que podem se estender até períodos pré-históricos. Isso quer dizer que no Gráfico Ahnentafel podemos ter marcadores genéticos a partir da pessoa pesquisada sempre na linhagem materna, ou seja: os números 3, 7,15, 31, e assim por diante. O mesmo raciocínio se aplica ao Cromossomo Y, ou seja: os números 2, 4, 8, 16, 32, e assim por diante. Para determinar os números da linhagem paterna, multiplicamos por 2 a partir do pai pesquisado. Para determinar os números da linhagem materna multiplicamos por 2 + 1 o número da mãe pesquisada. O estudo genômico percorre uma trilha genética objetivando estabelecer a origem a origem etnogeográfica do indivíduo pesquisado. E os números intermediários? É esse o atraso que a genética está correndo atrás: é necessária a criação de um banco de dados de seqüenciamento genético, para poder não só cruzar as informações obtidas, como também para identificar e corrigir erros da Genealogia tradicional. Vamos explicar melhor, usando o gráfico Ahnentafel como guia. Já vimos como estabelecemos as linhagens-tronco paterna e materna de um indivíduo. Para preencher os números intermediários, vamos precisar de exames de pessoas que estejam na linhagem-tronco do número que pretendemos pesquisar. Exemplo: não temos como através do exame do nosso DNA, estabelecer os marcadores genéticos da nossa avó paterna, que corresponde ao número 5 do gráfico, porque ela não está em nenhuma linhagem-tronco nossa. Para conseguir isso, temos que pedir a um filho dela que faça o exame, ou a uma filha da filha. Ao receber o resultado, vamos ter os marcadores de toda linhagem-tronco materna da nossa avó paterna, ou seja: os números 11, 21, 41, 81 e assim por diante. Se o exame foi feito a partir de um filho ou filha da avó, também iremos ter a linhagem-tronco paterna destes, ou seja os números: 10, 20, 40, 80 e assim por diante. O problema é que o trabalho não é tão simples. A Genealogia genética rastreia os genes sem consultar as linhagens conhecidas e aceitas como verdade, tendo como base documentos oficiais, como: registros civis, paroquiais, etc. Tais documentos atestam que as pessoas foram registradas como filhos dos seus pais, mas do ponto de vista da genética isto pode não ser verdade, e o resultado é que serão expostos muitos casos de bastardia, que eram desconhecidos. Vamos analisar um exemplo prático: um indivíduo está pesquisando a seu avô materno a partir dos genes de sua mãe. Em seguida esse indivíduo compara os marcadores do Cromossomo Y com o resultado do mesmo exame feito por um irmão de sua mãe, e conclui que o pai dele e a seu avô não são a mesma pessoa. Todos os documentos atestam que sim, mas a prova científica é incontestável. Exemplos como esse vão acontecer com uma impressionante freqüência nos estudos genealógicos feitos nos moldes tradicionais. Dilema metodológico. Nenhuma metodologia pode dar conta de dilemas. A solução deles tem um componente moral e individual. Sendo assim, as escolhas irão variar de acordo com a interpretação de cada pesquisador, o que certamente vai ocasionar a divisão da Genealogia em duas partes: a Genealogia genética, que será uma ciência exata, e a Genealogia histórica, que será uma ciência social voltada para o estudo de agrupamentos familiares e populacionais, consangüíneos ou não. Ambas seguirão caminhos diferentes com metodologia própria. É possível que em futuro distante haja uma fusão das duas. Para tanto, terá de ser criado um novo conceito de verdade que englobe os aspectos históricos e científicos. No momento presente estamos longe desse conceito. A Genealogia histórica não irá escapar sem traumas desse processo. O caráter pouco científico das pesquisas feitas será exposto de forma cruel, o que vai obrigar os pesquisadores a buscar métodos de trabalho mais condizentes com a nova realidade. E que métodos seriam esses? Em primeiro lugar a Genealogia vai precisar partir de um conceito que estabeleça a verdade que se quer pesquisar. Feito isso, deverão ser estabelecidos parâmetros de procedimentos que irão orientar os pesquisadores e dar um embasamento metodológico às pesquisas. A grande dificuldade de se fazer isso está na própria natureza do ser humano. Conforme foi dito no texto de abertura, o homem acredita mais facilmente no que gostaria que fosse verdade. A Genealogia da forma como conhecemos está fundamentada em provas documentais. Tais provas tiveram até hoje valor como verdade, mas esse conceito será superado pela prova científica, mais consistente e inquestionável. O fato é que a prova científica supera toda e qualquer prova documental, até mesmo em termos jurídicos. Mitos genealógicos. Não são apenas o mitos que viciam as pesquisas. Algumas fontes possuem uma credibilidade discutível, e precisam ser melhor analisadas e confrontadas com outras fontes. Como exemplo, os processos de habilitação de Genere, que em muitos casos se constituem em preciosa fonte de informação, podem conter muitos erros, inclusive propositais por parte dos seus autores, com o intuito de esconder sangue judeu, ou como prova de nobreza. Podemos fazer comentário semelhante com relação aos processos do Santo Ofício. Até os próprios registros paroquiais estão sob forte ameaça, quando forem confrontados com os marcadores do DNA. A Genealogia até hoje serviu de prova nos tribunais, e esses processos sempre assumiram o valor de verdade oficial. Como vimos, o risco da Genealogia tradicional entrar para o campo da mitologia é real, caso não modernize seus métodos de pesquisa, e faça uma profunda revisão de tudo aquilo que já foi pesquisado, publicado e divulgado. Sabemos que é muito difícil e complicado fazer isso, mas esse processo é inevitável, tendo em vista a sobrevivência da própria Genealogia histórica. Ética em Genealogia. Como lidar com isso? Já dissemos anteriormente que o estudo da Genealogia vai se dividir entre Genealogia genética e histórica. Cada uma vai oferecer importantes subsídios para a outra, porém alguns aspectos se tornarão antagônicos, e vão precisar de uma discussão ética. Com efeito, ninguém será obrigado a aceitar uma prova científica que possa alterar uma relação sólida e estruturada em uma família. Bancos de dados de DNA de pessoas vivas deverão ser protegidos por lei e proibida a sua divulgação. Apenas a justiça poderá ter acesso a material genético. A razão para tanto cuidado é muito simples: existem muitos bancos de sêmen e óvulos espalhados pelo mundo, que são usados para fertilização in vitro. Se o código genético puder ser divulgado, todos aqueles que foram gerados usando este material poderão identificar os doadores. A confusão jurídica que vai se estabelecer será enorme. Além disso, todos aqueles que doaram seus filhos para adoção têm o direito de exigir sigilo sobre suas identidades. Caso a clonagem de seres humanos se torne uma realidade, vamos ter um problema de difícil solução: geneticamente um clone é uma cópia de si mesmo, portanto é gerado por apenas um indivíduo. Se fizermos um exame de DNA de um clone, este terá o mesmo código genético de quem o gerou, portanto não terá um pai ou uma mãe. A discussão ética sobre a clonagem é pertinente a partir do momento em que sabemos que a ciência está a serviço da humanidade, e não contra ela. Se a ciência for direcionada para fins exclusivamente financeiros, irá cometer desvios que poderão comprometer o próprio futuro da humanidade. Sabemos que a evolução é o resultado da diversidade. Com a clonagem, a sociedade poderá retornar aos antigos sistemas familiares fechados, o que representa um retrocesso. O Futuro. Mas a grande revolução que a genética vai provocar já está acontecendo. Alguns estudos já divulgados de ancestralidade genômica estão derrubando velhos mitos sobre migrações e composição étnica de muitas populações. Certamente que tais estudos servirão como fator de combate à discriminação de minorias raciais, quando ficar provado que cada indivíduo carrega os genes de muitas etnias diferentes. Já se sabe que o peso da aparência física é muito pequeno para a determinação de uma ancestralidade genômica de longo prazo. Não há dúvida que esse é o grande aspecto positivo das pesquisas genéticas. O estudo das doenças hereditárias seria outro grande fator positivo. Há um campo aberto de largas possibilidades de colaboração entre as duas vertentes da Genealogia. Não criar antagonismos e tentar entender as diferenças, talvez seja a melhor forma de convivência entre as duas verdades. * Citado por Carl Sagan em: 'O Mundo Assombrado Pelos Demônios' Observação: Agradecemos o autor: Pela publicação deste texto, tão importante para entendermos o processo destas duas genealogias, a genética e a história, talvez no futuro seja a GENISTÓRIA, A NOVA CIÊNCIA. Veja nos sites: http://www.laerciobeckhauser.com/ Textos no Recanto das Letras: http://www.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=495356 Beckhauser
Enviado por Beckhauser em 18/06/2007
Alterado em 06/07/2008 |