O rei de Joinvilópolis e seu sábio súdito.
Há muito tempo, em terras distantes*, havia um Rei (governante) que procurava um conselheiro sábio que deveria ser seu súdito.
(* Afirmam alguns estudiosos que esta terra se chama Joinvilópolis e fica na América do Sul).
Após uma severa seleção de todos moradores de seu reino, escolheu um súdito que tinha cabelos brancos e andava sempre com sua inseparável bengala.
O rei não tinha muita confiança em seus atos e acreditava que a sorte não existia em seu reinado.
O súdito eleito, que também era sábio, sempre lembrava ao rei que a sorte existe, existia e existirá sempre...
Falava sempre, o súdito sábio ao rei, para ele jamais desanimar e acreditar sempre na sorte, pois o que a sorte faz, é tudo certo.
Ela nunca erra, pois ela é perfeita.
Um dia, o Rei saiu para caçar juntamente com seu súdito, e o rei foi atacado por uma fera, na floresta.
O súdito conseguiu matar o animal, porém não evitou que sua majestade perdesse o dedo mínimo da mão direita.
O Rei, furioso pelo que havia acontecido, e sem mostrar agradecimento por ter sua vida salva pelos esforços de seu súdito sábio, perguntou a este:
- E agora, o que você me diz? A sorte é perfeita? Se a sorte fosse perfeita neste meu reino eu não teria sido atacado, e não teria perdido o meu dedo.
O súdito respondeu:
- Meu Rei, apesar de todas essas coisas, somente posso dizer-lhe que a sorte é perfeita e que mesmo ao perder um dedo, é para seu bem! Tudo que a sorte faz é para o seu bem e sua felicidade. Ela jamais erra e se confunde!!!
O Rei, indignado com a resposta do súdito, mandou que o mesmo fosse preso na cela mais escura e mais fétida do calabouço.
Após algum tempo, o Rei saiu novamente para caçar e aconteceu dele ser atacado, desta vez por uma tribo de índios que vivia na selva. Estes índios eram canibais e temidos por todos, pois se sabia que faziam sacrifícios humanos para seus deuses.
Mal prenderam o Rei, passaram a preparar, cheios de júbilo, o ritual do sacrifício. Quando já estava tudo pronto e o Rei já estava diante do altar.
O pajé, que era o sacerdote indígena, ao examinar a vítima, observou furioso e triste e disse:
- "Este homem não pode ser sacrificado, pois é defeituoso e está muito assustado e com cheiro intenso de urina!
E mais um fato importante, falta-lhe um dedo"!
E o Rei foi libertado e expulso rapidamente da tribo
Ao voltar para o palácio, muito alegre e aliviado, mandou libertar seu súdito e pediu que o mesmo viesse em sua presença.
Ao ver o servo, abraçou-o afetuosamente dizendo-lhe:
- Meu caro, a sorte foi realmente boa comigo!
Você já deve estar sabendo que escapei da morte justamente porque não tinha um dos dedos e estava muito assustado.
Mas ainda tenho em meu coração uma grande dúvida: Se esta tal de sorte é tão boa, por que permitiu que você fosse preso da maneira como foi?
Logo você, que tanto a defendeu?
Logo você, que sempre falou bem desta SORTE?
O SÁBIO SÚDITO sorriu e falou bem alto e devagar:
- Meu Rei, se eu estivesse junto contigo nessa caçada, certamente seria sacrificado em teu lugar, pois não me falta dedo algum e nada mais me assusta!
Tudo que a sorte faz, fez e fará é correto, perfeito e explicável e compreensível.
A sorte, meu rei, sempre acerta, acertou e acertará e a partir de hoje não serei mais seu súdito.
A partir deste momento sou e estou LIVRE!
Irei para sempre desfrutar apenas de sua amizade e da amizade de todos os que vivem neste e em outros reinos e lugares distantes.
Spes messis in semine, dizia um filósofo romano.
A esperança de uma colheita sempre reside na semente.
Minha GRANDE SORTE neste final de minha vida é ter e ser uma excelente semente.
E apontando sua inseparável bengala para o horizonte falou:
"Esta é, foi e será a minha "grande sorte", pois sei que este reinado terá muita sorte e vida longa, e vou usufruir disto".
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* Joinvilópolis =