14 de fevereiro de 2011. | N° 1040
Jornal AN de Joinville
CRÔNICA |
NORBERTO WELL
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PARA TI, ARAQUARI
A vila de Araquari, Araquari que eu conheço, eu não esqueço. Não tem preço, e pelo apreço, eu não mereço. Mas esclareço que espaireço e confesso que enterneço, estarreço e esmoreço e por fim eu enobreço quando em seu colo amanheço.
Não me importo com o deporto de seu porto. Me conforto e me comporto quando exorto, o seu conforto e me recorto em seu horto e transporto, este anjo torto, para além do absorto.
Então volta ao coração, suas festas, procissão; novenas, chapéu na mão; roupa nova, algodão; mil pai-nossos, confissão; reisada, boi-de-mamão; açorianos, tradição; cacumbi, afro-expressão; e a misciginação, entre o negro e o alemão; branco, pardo, união; clube Elite, baile bom; roda de samba canção; bons anos que lá vivi; e quem habitou por ali; bebeu do Rio Parati; sabe o que é este sentir e como entre o mar, rio, matagais, em seus umbrais brilham os portais para seus sóis matinais, arsenais de aventais, em cerimônias reais em seus varais; agricultores artesanais a cultivar bananais; pescadores emocionais; amores proporcionais às flores de seus quintais; madrugadores exponenciais, rogam que os santos inclinais, junto aos senhores pais, dos rigores divinais, aos amores virginais, causadores ocasionais de flores matrimoniais, ou de dores maternais.
E me alavanco em um arranco e estanco em um Sol branco; amarelado, pois num flanco do passado; num tranco eclipsado; pausado; descansado – vejo seu Antenor sentado, frente à loja, riso franco, repousado em seu banco.
De repente, desenfreio um violão em floreio; ombreio um palavreio; rastreio o recreio e saboreio um ponteio do Adonai e as garotas; no esteio, do correio; desassoreio um mareio e o peito solta o freio; eu guerreio; mas derreio ante a saudade – este aperreio.
E volta o Ziba balançando, seu caminhar e zombando, da vida que o está levando; seu Ernani afinando, uma viola dedilhando; o Bom Jesus abençoando, o povo que vai rezando; o poeta gerundiando; as beatas disputando, o padre Anibal confessando; ouço o sino tocando, para a vila anunciando que a missa está começando, ou tem morador “passando” e o enterro terminando; é gente que vai morrendo, é gente que vem nascendo; o Bar Sete se enchendo e a bebida descendo; a alegria subindo; o branco e o negro sorrindo; depois saem abraçados, felizes embriagados; um na voz outro na palma; cantam o céu enluarado e neste dueto encantado; suas vozes cobrem a praça; sob o sabor da cachaça; provam que o homem ante a raça, se mede por sua alma.
Quando me pego a cismar, ouço a voz dela no ar, do infinito a chamar, a dizer ainda estar, no paraíso a esperar, pois meu dia há de chegar; o peito quer apressar, mas espero Deus mandar; então volto a Araquari, pro cheiro dela sentir e imaginar que a vi; porquanto, enfim, foi ali; que um dia a conheci e se serve de consolo, sempre finjo que melhoro, quando meu peito penhoro; depois me invade o choro – e se afloro ambiguidade, deploro a dualidade mas quando exploro a saudade imploro felicidade.
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