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(Lalá do Brasil) Labeck = LBW
Meu Diário
06/04/2010 11h43
Manobra insanas - Mar Aral = evaporação das águas.
6 de abril de 2010. | N° 726
ARTIGO
 
Monobras insanas,
por Samantha Buglione*
 
O mundo ficou impressionado com o ressecamento do mar de Aral. Para Ban Ki-Moon, secretário-geral das Nações Unidas, é um dos desastres mais chocantes do planeta. O lago, que já foi o quarto maior do mundo, secou 90% desde que os rios que o alimentavam foram desviados em um projeto para aumentar a produção de algodão na árida região. Mas chocante não é o lago secar. Chocante é seguirmos fazendo manobras insanas que levam a esse tipo de acontecimento. O assustador não é a seca, ela é uma consequência; assustador mesmo é a ação humana.

A evaporação das águas do mar de Aral deixou camadas de areia altamente salgadas e causou problemas de saúde na população local. Algo que certamente não estava no cálculo daqueles que defendiam o projeto de alteração dos rios. Os impactos mediatos nunca são lembrados. O mesmo acontece em projetos como o da fosfateira em Anitápolis, o estaleiro em Biguaçu, a transposição do rio São Francisco ou o insistente aumento de construções em áreas que deveriam ser preservadas.

Talvez a razão de tanta estupidez seja a nossa incapacidade de perceber valor inerente nas outras formas de vida. Somos demasiadamente antropocêntricos e isso está sendo o nosso fim. Não respeitamos os animais não-humanos e os ecossistemas naturais simplesmente porque eles não têm uma racionalidade semelhante a nossa. Ou porque cremos, por conta de algum postulado que nos beneficia que tudo que está no mundo existe para nos servir. Esquecemos, porém, que nós mesmos estamos perdendo, dia a dia, nossa autonomia. Seja a autonomia prática que implica dominar os movimentos do corpo, de escolher um alimento sem veneno, seja a autonomia que significa dar uma finalidade para a própria vida. Vivemos um novo feudalismo, o feudalismo voluntário. E isso sim é assustador.

Cada vez mais não conseguimos andar sem ficar ofegante, caminhar descalço, subir em árvores. Não somos autônomos, afinal, não conseguimos nem mesmo subir em um muro sem uma escada. Alguns irão pensar que isso é coisa de macaco ou de homem das cavernas e que seria uma ofensa para nossa evolução conseguirmos nos virar no mundo pelas próprias mãos. A questão é que o conceito de poder não é ter alguém ou algo nos servindo, mas ter condições de ser senhor da própria vida. Deveria, portanto, ser um dever moral suportar o próprio corpo e todo o lixo que ele produz.

Quando dizemos que tudo tem valor simplesmente porque nos serve – serve aos humanos – transformando as coisas vivas do mundo em objeto de nossa satisfação, acabamos por eleger como fundamento da nossa ação a moral que crê que humanos são superiores. Humanos não são superiores, são singulares, e são tão singulares quanto uma barata. A diferença é que conseguimos facilmente matar uma barata. Talvez, por isso, por esse poder de morte e destruição, cremos que sejamos melhores. O irônico disso tudo é que no saldo final das destruições ambientais que nossa espécie está promovendo, como a da seca do mar de Aral, serão as baratas que resistirão e ficarão para contar história. Ao que tudo indica, serão as inferiores baratas os novos predadores.

*Professora de direito, bioética e do mestrado em gestão de políticas públicas da Univali. Doutora em ciências humanas/
buglione@antigona.org.br


Publicado por Beckhauser em 06/04/2010 às 11h43

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