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Um protesto contra o Viagra
Um protesto contra o ViagraMoacyr Scliar O Viagra, remédio para disfunção erétil, é uma das armas usadas pelos agentes da CIA (a agência de inteligência americana) na conquista de aliados no Afeganistão, informa o "Washington Post". Conforme o jornal, entre os favores, além da distribuição do medicamento, estão doações de canivetes e ferramentas, pagamento de cirurgias e tratamentos dentários. "Oficiais dizem que esses atrativos são necessários no Afeganistão, um país onde militares e líderes tribais esperam recompensas pela cooperação e onde, para alguns, trocar de lado é tão fácil quanto trocar de roupa. Se os americanos não oferecem incentivos, há quem o faça, incluindo líderes do Taleban, traficantes de drogas ou mesmo agentes do Irã", diz o jornal. Segundo informações, o Viagra tem grande prestígio, por exemplo, entre líderes tribais que têm várias mulheres e querem "voltar à posição de autoridade". Folha Online "PREZADOS DIRIGENTES da CIA: esta carta, que por razões óbvias é confidencial, está chegando a vocês graças à ajuda de uma pessoa cuja identidade é secreta, alguém que escreve em inglês, que tem bons contatos, e que nos animou a contar o que segue. Durante muito tempo, Caolho nos tratou bem e não tínhamos motivo de queixa, nem mesmo pelo fato de fazermos parte de um harém, coisa que nesta região é, como os senhores sabem, tradicional: os patriarcas bíblicos tinham várias esposas, e o rei Salomão chegou a ter cerca de mil mulheres, das quais certamente não sabia nem sequer o nome. Caolho, ao contrário, era gentil, ao menos no começo. Depois foi mudando e tornando-se cada vez mais tirano; tratava-nos mal, ofendia-nos com palavras grosseiras -até que decidimos nos rebelar, e da forma que estava ao nosso alcance. Não poderíamos, como as ocidentais, simplesmente sair de casa; não teríamos sequer meios para nos sustentar. Como mostrar nossa inconformidade? Uma de nós teve uma ideia que logo se revelou brilhante: exigir do patriarca o cumprimento das obrigações conjugais, mas exigir insistentemente, de forma a esgotar suas energias, a humilhá-lo. E assim, a cada noite uma de nós introduzia-se na cama dele, pedindo sexo. Deu certo: em poucos dias ele já não tinha forças para nos atender. Consequentemente, foi perdendo a arrogância, e já não ousava sequer nos olhar. Estávamos vencendo a batalha! De repente, tudo mudou. Presenteiem-no com canivetes, com ferramentas, com próteses dentárias. Com Viagra, não. ![]()
Folha de S. Paulo (SP) 05/01/2009 Obs.:Moacyr Scliar ocupa a cadeira 31 da Academia Brasileira de Letras.
http://www.academia.org.br/ ![]() ![]() Publicado por Beckhauser em 08/01/2009 às 23h25
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